O relatório do IKEA*
Foi divulgado o relatório do Ikea relativo ao ano 2022 sobre “a vida em casa”. Publicado anualmente desde 2014, no relatório é feita uma análise, com base em dados e entrevistas efectuadas em vários países da Europa, América, Ásia, sobre a forma como a “casa” é percepcionada e vivida pelas várias culturas e nos diversos momentos da vida sócio-política do país ou região.
É interessante perceber como, conforme a zona deste globo azul onde vivemos, o conceito, as preocupações e a vivência em “casa” se modificam, levando em conta factores como o clima, o desenvolvimento econômico, o nível de escolaridade da população e, surpreenda-se, até os hábitos alimentares.
Num mundo pós-pandemia, em que a casa foi “santuário” e refugio das famílias, o entendimento que temos sobre o que nos faz sentir em casa é o tema principal deste relatório.
4 em cada 10 pessoas disseram sentir-se menos positivas em relação à sua casa este ano do que no ano anterior.
Para a elaboração do relatório foram efectuadas 37.000 entrevistas em 37 países e a foi concluido que quanto mais a casa reflete quem nós somos, mais positivos nos sentimos relativamente à nossa vida nela.
6 em cada 10 pessoas manifestaram sentir que a casa era o reflexo de quem são, com excepção das pessoas mais jovens onde essa média cai para metade.
52% daqueles que considerem que a sua casa é reflexo da sua personalidade concordam com a casa é fonte de bem-estar mental, ao passo que apenas 30% dos que sentem que a casa não os reflete concordam com essa afirmação.
Ao contrário, também se conclui que a casa é causa de muitas preocupações e desconforto, já que 4 em 5 pessoas confessou sentir-se frustada por viver numa casa desarrumada e por limpar.
Uma das maiores preocupações verificadas foi a falta de espaço para arrumação e a acumulação de objectos. Na verdade, o consumismo das sociedades modernas leva à acumulação de objectos, muitas vezes sem qualquer significado emocional ou utilidade. E a acumulação de objectos supérfluos leva frequentemente à sensação e sobrecarga e à sensação de assoberbado.
A imagem que decorre dos media
Globalmente, 48% das pessoas manifesta que a imagem passada pelos media não representa a sua vida em casa, já que essa imagem tende a mostrar um padrão que a sociedade qualifica como o “ideal”, mas que, em grande parte dos casos não corresponde à realidade (basta ver os programas de renovações de casas para se chegar a tal conclusão). De facto, as nossas casas devem ser um reflexo da nossa personalidade, das nossas vivências, dos nossos gostos e preferencias. Não um modelo saído de uma revista que nada tem a ver com a nossa forma de vida.
A sensação de casa está intimamente ligada à forma como nela encontramos aspectos do nosso dia-a-dia, através dos objectos pessoais e muitas vezes tão estimados e das coisas que apenas a nós dizem alguma coisa. E elas importam realmente, não pelo valor, mas pelo significado.
Lembre-se que a casa é sua, é o seu espaço, é o lugar para as coisas que fazem sentido para si.
As perspectivas para ano
Umas das constatações do relatório foi com a crescente preocupação com a situação económica, os rendimentos familiares e o impacto das alterações climáticas na forma como que perspectiva a vida em casa. A redução de rendimentos e da capacidade de compra e o impacto que se espera na vida das famílias, leva a concluir que as pessoas irão passar a fazer em casa algumas coisas que habitualmente faziam com frequência fora, como alguns hobbies, as refeições e celebrações e alguns divertimentos e férias.
E afinal… o que nos faz sentir em casa?
Tradicionalmente, a sensação de “casa” deriva do bastante do sentimento de conforto e segurança, da sensação de pertença e propriedade e da necessidade satisfeita de privacidade. Com a pandemia, acresceram duas necessidades adicionais ao conceito de casa: a sensação de prazer e de realização. Particularmente com o fenómeno que se alastrou e parece ter vindo para ficar de trabalho remoto a partir de casa.
A casa não tem de ser perfeita, nem imaculada, nem imutável no tempo. Deve ser agradável, confortável e funcional para quem vive nela.
Todos merecemos sentir-nos em casa na nossa casa e sentirmos que o espaço onde habitamos é uma continuação da nossa personalidade. è nela que somos quem somos, que rimos e choramos, que nos divertimos, que recebemos os amigos. É onde construimos a nossa família, onde celebramos as conquistas e lamentamos as derrotas. É onde somos o que formos, seja lá o que isso seja.
Casa arrumada é assim por Carlos Drummond de Andrade.
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas…
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo: Aqui tem vida…
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto…
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos… Netos, pros vizinhos…
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias… Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela…
E reconhecer nela o seu lugar.https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade
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